Por que o Planejamento Estratégico é considerado essencial?
Por Ronaldo José Damaceno – São Paulo, 25/01/2023
Em 1950, Willian E. Deming, um dos filósofos da qualidade, defendia a ferramenta idealizada por Walter Andrew Shewhart, denominada como Ciclo PDCA – Plan (planejar), Do (fazer), Check (verificar) e Act (agir), como sendo essencial para garantir resultados com qualidade.
A base desta ferramenta está na repetição. Ela é aplicada sucessivamente nos processos para que se busque a melhoria de forma continuada.
Neste contexto, o planejamento, a padronização e a documentação são práticas importantes, assim como medições precisas. Seu foco é a solução de problemas seguindo as quatro fases indicadas pelas letras: PDCA.
Por ser uma ferramenta de uso cíclico, ela também promove a melhoria contínua dos processos.
Mas vamos direto ao tema que me propus a fazer, o Planejamento Estratégico. Deixarei as ferramentas da qualidade, para um próximo artigo, uma vez que elas, podem ser utilizadas, até com muita efetividade na elaboração de um Planejamento Estratégico confiável, seguro e capaz de alcançar resultados superiores.
Lendo o parágrafo acima, é fácil deduzir o quanto, o ato de planejar é determinante para a liderança e para uma gestão estratégica, sendo aplicável a qualquer organização, independente do seu porte ou tamanho. O Planejamento Estratégico é utilizado pelas melhores e maiores empresas, sendo elas, que ditam as regras, dominando o mercado.
É preciso dizer, que Planejamento Estratégico, é um documento formal, que define o melhor caminho a ser seguido por uma organização, para se obter resultados, em um determinado período.
Esse documento serve de bússola para alcançar objetivos estratégicos e diferenciar a empresa, naquilo que se faz.
Isso só é possível, porque define as estratégias, internas e externas, reconhecendo as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, para aquilo que se pretende alcançar. Definindo os objetivos, as metas, os indicadores e as efetivas ações, de curto, médio e longo prazo, para se obter os resultados desejados. Fazendo cumprir com a missão e a visão de futuro, sem ter que renunciar os valores institucionais.
A primeira missão da empresa para elaborá-lo, é se debruçar nos seus dados brutos, com objetivo de transformá-los em indicadores de desempenho, que servirá de parâmetro para elaboração do perfil demográfico. Isso permitirá obter uma compreensão detalhada, da situação em que, a empresa se encontra.
Em posse das informações, fica mais fácil discutir as suas forças e fraquezas, junto a equipe de colaboradores, bem como, analisar as oportunidades e ameaças, junto ao mercado concorrente, ou seja, realizar uma Análise FOFA ou SWOT – Strengths (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportuities (oportunidades) e Threats (ameaças).
Ela permite englobar variações e considerar os cenários: interno e externo, para tomada de decisões estratégicas, que sejam capazes de melhorar a visibilidade do negócio, dentro do mercado em que atua.
Vamos compreender essas duas poderosas metodologias, para avançar nosso raciocínio sobre Planejamento Estratégico.
Perfil Demográfico
Vamos entender melhor a importância do perfil demográfico: é uma ferramenta de negócios que identifica várias características quando as empresas tentam definir um segmento de mercado. Características comuns no perfil incluem idade, sexo, renda, tamanho da família e educação. Esse estudo traz dados em forma de indicadores que são relevantes para uma análise crítica da liderança. Segue alguns dados/indicadores comumente utilizados:
- quanto produzimos;
- quanto vendemos;
- quanto recebemos;
- quais foram os maiores compradores;
- quais foram os melhores compradores;
- em quais regiões eles estão;
- quanto são pessoas jurídicas e quantas pessoas físicas;
- qual a faixa etária e sexo das pessoas físicas;
- qual faixa de idade das empresas e qual a sua classe ou categoria;
- quais produtos ou serviços estão tendo as melhores saídas;
- qual o ticket médio; qual o custo médio;
- quais as principais queixas ou reclamações;
- qual tempo médio de entrega;
- qual o cumprimento com que foi estabelecido;
- qual o grau de satisfação destes clientes;
- índice de retrabalho; qual a produção por colaborador;
- tempo de ociosidade;
- quantidade de colaboradores;
- efetividade do planejamento financeiro;
- índice de perda;
- índice de não conformidades; dentre outros.
Essa análise é extremamente necessária e fundamental para identificar o que estamos fazendo, como estamos fazendo, o que está sendo reconhecido e evidenciar de maneira objetiva exatamente onde estamos.
Essa avaliação seguida de algumas ferramentas da qualidade, ajudam a realizar uma análise criteriosa sobre o que precisamos melhorar e o que, precisará ser revisto, com mais atenção para se evitar maiores problemas no futuro próximo.
Análise FOFA ou SWOT
Com base nos dados apurados do perfil demográfico, se faz uma rodada de brainstorming (reunião com a missão de discutir ideias, propostas e sugestões, sem censura crítica dos participantes, para levantar o máximo de palpites possíveis) ou brainwriting (levantamento de informações em questionários, por e-mail, formulários ou mensagens, para levantar o máximo de palpites para uma futura análise crítica).Essas sugestões formarão as forças e fraquezas, que demonstram a visão interna da empresa.
Em segundo momento, se busca olhar, o mercado externo. O objetivo é de comparar os diferenciais e as deficiências da concorrência, que denominamos como Benchmarking. Essa é outra ferramenta amplamente divulgada pela qualidade, que é considerada de boa prática, utilizada com muita frequência pelo mercado. É com ela que definimos as oportunidades e ameaças, ou seja, aquilo que deveremos reforçar como melhoria, para obter êxito e aquilo que deveremos ter atenção, para evitar a descontinuação.
Ao fazermos esse cruzamento, conseguimos definir estratégias acertadas. Aquelas que favorecem as empresas, que garantem os resultados planejados. O segredo aqui, é ser criterioso no estudo das informações. Esse estudo, deve trazer clareza, rapidez e objetividade, para que o plano, dos caminhos e/ou estratégias, possam ser percorridos, sem grandes traumas. Além de permitir estabelecer indicadores de controle e monitoramento do andamento do planejamento, permitindo assim, a gestão à vista.
Com essas duas metodologias em prática, que parecem simples, mas que requerem uma especialização, com objetivo de evitar retrabalho, se percebe com clareza, a importância em definir estratégias objetivas para se obter resultados superiores.
Porém, o Planejamento Estratégico, não termina aqui. Ainda temos as definições ou a revisão dos elementos estratégicos, aqueles que norteiam a gestão da empresa, com suas Premissas, Missão, Crenças, Valores e Visão de Futuro. São eles, que balizam as decisões estratégicas, as prioridades, permitindo elaborar políticas institucionais para se atingir os objetivos, com metas, responsivas e com os resultados mínimos para se garantir o sucesso.
Elementos Estratégicos
Visão, é a maneira pela qual a empresa vê a si própria no futuro, dentro do mercado em que atua, para qual comunidade, qual o meio ambiente, oferecendo quais produtos ou serviços, em quais condições, em qual posição e com qual credibilidade.
Crenças, são todas as certezas que formam o caráter e a visão, advindo da cultura que identifica uma empresa no decorrer do tempo.
Valores, são as afirmações culturais, originadas nas crenças e que modelam as atitudes e comportamentos. Tanto podem ser coletivos ou individuais e influenciam na visão e missão que a empresa se propõe.
Missão, é a proposta que uma empresa faz nas suas relações com o mercado, com a comunidade onde atua e consigo mesma. Deve estar de acordo com a visão de futuro, com os valores e as crenças, bem como, ser passível de realização. É por isso que a missão representa um compromisso maior das atitudes da empresa para com a visão.
Objetivo, é aquilo que se pretende alcançar com base em uma estratégia, que fornece o caminho e direciona a empresa.
Políticas, são as intenções claras e objetivas daquilo que se pretende fazer para atingir objetivos, dentro de um plano de metas e com indicadores definidos de desempenho.
Estratégia, é uma direção, um guia, ou curso de ações que levarão para um determinado resultado, neste caso, para realização da visão de futuro. É o caminho do ponto A para o ponto B.
Planos, são as ações que define o que será e como será feito, quem será responsável, em que prazo, em quais condições, com os perigos e riscos definidos, os controles de monitoramento e os resultados esperados.
Projetos, são as táticas e as metas para se atingir o resultado.
Processos, compreendem um conjunto de atividades voltadas para uma finalidade definida e específica, sejam eles coletivos ou individuais, manuais ou automatizados, compreendidos ou não nos planos e projetos.
Ações, aquilo que será feito para atender ao plano.
Táticas, aquilo que será realizado para cumprir com o projeto.
Metas, quando será realizado, por quem, em qual prazo e em quais condições, com qual objetivo a ser alcançado.
Resultado, aquilo que se pretende alcançar.
Cadeia de Suprimentos
Em posse destes dados, finalmente o Planejamento Estratégico começa a ter uma cara de direcionamento para se atingir resultados, porém, ainda podemos avançar em soluções que contribuem com a gestão estratégica da empresa. Vamos a elas.
Definir a cadeia de suprimentos ou “Supply Chain”, que se refere a todas as operações pelas quais um produto passa, desde a matéria-prima até o processo de entrega ao cliente final. Esse é um termo que, traduzido do inglês, significa cadeia de suprimentos. Seu uso é recorrente no segmento logístico e deve ser empregado por qualquer negócio — já que visa atender às principais necessidades e demandas dos clientes.
O “Supply Chain” atua de forma estratégica influenciando todas as pontas da cadeia de suprimentos, desde a programação dos fornecedores até a satisfação do cliente. À medida que o setor se desenvolve, os desafios de entendimento e gestão dos processos com as novas tecnologias crescem na mesma proporção.
Como ressaltado, o “Supply Chain”, permite o controle de toda a cadeia de produção e do serviço prestado por todos os fornecedores e demais parceiros envolvidos, o que possibilita a composição de um produto com mais qualidade e a entrega correta ao cliente.
No Planejamento Estratégico, utilizamos a cadeia de suprimentos para analisar em que posição a empresa está no fluxo do dinheiro, bem como, para visualizar e até viabilizar parceiros para alavancar os resultados, mais facilmente.
É preciso agora, categorizar essas estratégias, bem como priorizá-las em ações, que possam ser monitoradas, de maneira alinhada, para se atingir objetivos.
BSC – “Balanced Scorecard”
É um modelo de gestão estratégica que surgiu para desmistificar a visão de que, para obter sucesso, um negócio precisa focar unicamente em indicadores financeiros e contábeis. Ao mesmo tempo, o BSC serve para definir estratégias e desenhar planejamentos de maneira muito mais abrangente.
O principal objetivo do BSC é o alinhamento do planejamento estratégico com as ações operacionais da empresa. Esse objetivo é alcançado pelas seguintes ações: Esclarecer e traduzir a visão e a estratégia – É frequente as organizações possuírem uma visão e estratégias que não são devidamente esclarecidas e discutidas.
O BSC é um método voltado ao gerenciamento da estratégia das empresas. Seu principal objetivo é possibilitar que gestores e equipes trabalhem pensando no futuro (longo prazo), atuando para concretizar ações ou projetos que garantam um crescimento sólido às empresas. Além disso, o BSC é baseado em 4 componentes estratégicos (objetivos, metas, indicadores, iniciativas) e 4 perspectivas (financeira, dos clientes, processos internos, aprendizado e crescimento). Vamos entender o que são essas perspectivas:
Perspectiva Financeira
Essa perspectiva analisa os impactos que as decisões estratégicas têm sobre as metas. É preciso que a empresa tenha objetivos financeiros a longo prazo, conectando-os a um plano de ação que se ligue aos processos financeiros, aos clientes, aos processos internos, além dos colaboradores e sistemas. Aqui, os indicadores financeiros são importantes para mostrar se a companhia está na direção certa. Por isso, apesar de o BSC ir além das métricas de finanças, é interessante observar a lucratividade, o faturamento e o aumento de valor.
Perspectiva do Cliente
Essa perspectiva considera tanto a participação da empresa no mercado, quanto a satisfação dos clientes. Para isso, é importante identificar os stakeholders e definir os resultados que serão avaliados, como fidelização, satisfação, rentabilidade, aquisição e participação de mercado. Essa é a área que pensa em características do produto ou serviço (qualidade, funcionalidade, preço), relação com o cliente (relacionamento e experiência de compra), imagem e reputação. Sendo assim, é importante compreender a visão que os clientes têm da empresa.
Perspectiva dos Processos Internos
A qualidade dos processos internos é o foco desta perspectiva, tanto em termos de inovação, quanto de operação e pós-venda. Na prática, isso pode se traduzir em indicadores como produtividade, custo, tecnologia e tempo de desenvolvimento. O ideal é buscar constantemente a excelência dos processos, implementando melhorias e reparando erros ou danos.
Perspectiva do Aprendizado e Crescimento
Essa perspectiva avalia a satisfação interna dos colaboradores. Aqui, é válido observar ativos intangíveis, como engajamento, capacitação e satisfação. Além disso, pode ser interessante medir a rotatividade de colaboradores e os treinamentos implementados. Também entram nessa área os objetivos e medidas de infraestrutura que se mostrarem necessários para atingir resultados com a equipe.
Mapeamento Estratégico
Sendo parte do modelo BSC, um mapa estratégico está intrinsecamente ligado ao tripé missão, visão e valores da empresa. Ou seja, para definir o objetivo principal do negócio, é preciso levar em conta porque a empresa existe, o propósito das suas atividades e os objetivos de curto e longo prazo. Ao mesmo tempo, o BSC serve para definir estratégias e desenhar planejamentos de maneira muito mais abrangente.
O mapa estratégico é um método para colocar em prática o BSC, ou seja, uma representação visual das metas da empresa em 4 perspectivas. Nelas constam as principais ações a serem empregadas e os resultados pretendidos. Com isso, terá um resumo das atitudes a serem tomadas em cada uma, para alcançar os objetivos e seus indicadores de desempenho avaliando se está na direção certa ou não.
Os benefícios do mapa estratégico BSC
Além de definir caminhos, o mapa estimula à cultura do aprendizado, promovendo a melhoria contínua. Também, traz assertividade na alocação dos investimentos, proporciona boas tomadas de decisão e uma análise holística da empresa, além disso:
- determina a responsabilidade de cada setor para alcançar as metas;
- informa os objetivos gerais e em comum de todos;
- facilita o papel de cada um dentro do negócio;
- conecta ideias para chegar a um resultado;
- mostra os gargalos e como resolvê-los;
- oportuniza uma melhor comunicação entre departamentos;
- auxilia na execução efetiva da estratégia;
- alinha os objetivos do negócio;
- estimula a participação de cada colaborador para que seja reconhecido.
Indicadores importantes para medir o sucesso dessa perspectiva são:
- Rotatividade de colaboradores;
- Engajamento;
- Capacitação;
- Treinamentos;
- Satisfação.
Método 5W e 2H
O Método 5W2H tem como objetivo principal auxiliar no planejamento de ações, pois ele ajuda a esclarecer questionamentos, sanar dúvidas sobre um problema ou tomar decisões. Assim, seu uso traz benefícios a como facilidade na compreensão de fatos e um melhor aproveitamento de informações.
- What: o que será feito? (objetivo principal do projeto);
- Why: por que será feito? (justificativa para o desenvolvimento do projeto);
- Where: onde será feito? (local de realização do projeto);
- When: quando será feito? (tempo de execução do projeto);
- How: como será conduzido? (como será realizado o projeto de maneira mais explicita);
- How much: quanto custará esse projeto? (qual o valor que será investido para que isso ocorra).
Essa ferramenta ajuda a organizar o que se pretende colocar em prática, através de um plano de ação estruturado e sistêmico. As principais vantagens do plano de ação 5W2H são a praticidade e o fácil entendimento. Além de ter uso simples e objetivo, a ferramenta se destaca por sua eficiência na metodologia. É válido ressaltar que a técnica não precisa ser usada apenas para negócios, mas também pode ser utilizada de forma pessoal.
Método SMART
O Método SMART, trata-se de um acrônimo que significa: Específico, Mensurável, Alcançável, Realista e Oportuno. Assim, uma meta SMART incorpora todos esses parâmetros para focar os esforços e elevar as possibilidades de se atingir um objetivo.
Os objetivos SMART são uma ferramenta que auxilia as empresas e pessoas a definirem metas. Eles funcionam como uma espécie de checklist, possibilitando que cada objetivo seja verificado e avaliado. São, portanto, aspectos quantitativos que devem ser definidos em uma organização.
Ele serve para os mais diversos segmentos, desde negócios voltados a serviços até àqueles que querem criar uma loja virtual. Além disso, os objetivos SMART podem ser utilizados até mesmo em outros aspectos das nossas vidas, como em metas pessoais. De forma prática, objetivos são resultados centrais que se busca alcançar com uma empresa e as metas são estratégias voltadas para chegar até eles, devendo ser traçadas cuidadosamente para alcançá-los, seja a curto ou longo prazo.
Conclusão
O Planejamento Estratégico é essencial para que as empresas caminhem em direção ao objetivo desejado, evitando atalhos ou atrasos. Além disso, contribui para uma visão unificada, independente de quem: cargo ou função, viabilizando o engajamento das pessoas, o monitoramento e acompanhamento das ações, com a possibilidade de ajustes, no tempo exato.
Qualquer empresa ou negócio, precisa de um planejamento estratégico, é de fundamental importância o pensamento de curto, médio e longo prazo. Empresas que utilizam, crescem independente das situações de mercado, se tornam valiosas e necessárias para seus clientes.
Bibliografias
- Planejamento Estratégico e Operacional em Saúde; Martinho, Eduardo; Airton Viriato; Paulo Roberto Sagatelli Camara; FBAH
- As estratégias do olho de tigre; Grinberc, Renato – Editora Gedante, 6 edição
- Mapas Estratégicos, Balanced Scorecard; Robert S. Kaplan e David P. Norton – Campus
- Planejar para Crescer , Editora Escola de Negócios.
- 12 Elementos da Gestão de Excelência; Rodd Wagner e James K. Harter, Sextante.
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